Quem não discerne que o milagre é a vida, e que o resto que de bom seja, é apenas força e alegria para viver — nunca aprenderá a viver nesta terra de nascimentos chorados, de gozos doídos, de partos arrancados, de uniões entre espinhos; e de necessidade de paciência e perseverança em amor, assim como se necessita de pão, água, ar e calor.
No domingo, já tarde para uma casa em saudade, uma moça veio aqui e entrou no quarto de minha mãe e jogou-se em cima dela, que dormia, dizendo: “Como eu vou viver sem ele?” E gritava isto com insistência, assustando minha mãe. Eu peguei a moça e a levei para a garagem da casa e conversei com ela.
“Você não sabe o que é ficar sem ele!...” — me afirmava ela, que vinha aqui de tempos em tempos, e apenas quando não tinha outra alternativa, em razão da escolha suicida que ela fez e que mantém: viver cheirando pó.
Eu não sei o que é ter que viver sem ele...
Eu?
O fato é que aquela moça bem expressa a verdade acima, ensinada a mim por meu pai:
A pessoa que não discerne que o milagre é a vida, e que o resto que de bom seja é apenas força e alegria para viver — nunca aprenderá a viver nesta terra de nascimentos chorados, de gozos doídos, de partos arrancados, de uniões entre espinhos; e de necessidade de paciência e perseverança em amor, assim como se necessita de pão, água, ar e calor.
Quem não vê a existência assim, jamais encontra vida na existência.
Busca, busca e nunca acha nada.
Só vê vida na existência aquele para quem a vida é o milagre e a existência é a conseqüência. Não importando “o quê”. Pois, já não há mais “quês” depois que a vida é o milagre em si.
Sim! Quem não vê a vida assim é capaz de achar que sua dor longínqua e egoísta é sempre a maior do mundo; e que nesta vida não se tem razão alguma para existir se alguém não viver por nós.
A tristeza é constatar que a fraqueza humana que só aumenta frente à existência, é o amargo fruto de não se ver claramente que a existência é secundaria onde o milagre é a vida.
Pense nisso!
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